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terça-feira, 18 de março de 2008

Pescaria, política e muita ópera



O ex-Pink Floyd Roger Waters chega a Manaus para trabalhar a montagem de sua peça ‘Ça Ira’. E pescar

Jotabê Medeiros

O baixista, cantor e compositor inglês Roger Waters, de 63 anos, um dos fundadores da banda Pink Floyd, chega esta semana a Manaus para supervisionar pessoalmente a montagem de sua ópera Ça Ira, cujos ensaios começaram hoje. A estréia está prevista para o dia 15 de abril, às 20 horas, na abertura do 12º Festival Amazonas de Ópera.

“Sei que há um surto de febre amarela no Brasil. É preciso também tomar uma vacina antimalária. Como eu odeio todo tipo de medicação, hesitei muito antes de decidir ir a Manaus. Mas agora já tomei a vacina, estou chegando”, disse Waters à reportagem há alguns dias, falando sobre sua vinda. “Adoro pescar, então vou tentar achar um tempo para ir ao Rio Negro. Estive na América Latina no ano passado e é sempre muito agradável. Para a ópera, tenho conversado muito com o diretor, Caetano Vilela, e temos trabalhado em sintonia. Sinto entusiasmo e criatividade da parte do elenco brasileiro”, afirmou.

“Ça Ira chegou até mim por intermédio de um grande amigo, Ethiene Roda-Gil. Em 1988, ele me mandou a primeira página do libreto dessa ópera, e eu gostei muito. A partir dela, fiz uma demo em minha casa em Londres. A princípio, o trabalho destinava-se às comemorações do bicentenário dos eventos revolucionários em Paris, e seria apresentado na Ópera da Bastilha, em 1989. Mas acabou se convertendo em um trabalho em eterna mudança. Eu continuo a trabalhar na peça. E a oportunidade dessa montagem em Manaus é mais uma chance de testar novas direções para a ópera.”

A Sony Classics lançou em 2005 o disco com a ópera Ça Ira - There Is Hope, com o barítono galês Bryn Terfel, o tenor Paul Groves e a soprano chinesa Ying Huang. Waters trata de tirania, poder e liberdade com personagens anônimos da história.

“Há cerca de 200 anos, franceses e americanos descobriram que os seres humanos têm direitos. Que não têm de ter um rei ou um papa para lhes dizer qual é o seu destino, para decidir sobre sua economia, sua cultura. Em 1776, na América do Norte, os americanos fizeram sua Declaração de Independência. Mas se passarão outros 200 anos antes que essa noção de revolução se estenda também ao indivíduo. Há de fato ainda uma grande confusão no mundo, muita pobreza, muita doença. E eu não vejo razão para isso continuar existindo. É da natureza humana explorar o próximo? Não podemos mudar isso?”, pergunta Roger Waters.

“Sim, eu ainda acredito em revoluções. Especialmente naquela individual, no ser humano se conscientizando do seu potencial e derrubando também essas barricadas. Deve perceber que os avisos do meio ambiente, das mudanças climáticas, apontam para a necessidade de uma mudança interna.”

Atualmente vivendo nos Estados Unidos, o cantor continua ativíssimo politicamente, e embora tenha sido criticado por “meter o bedelho na terra alheia”, não se intimidou. “Espero que saia logo a indicação de quem vai concorrer pelo Partido Democrata. Obama tem boas chances, e eu acredito nele. Ele mostrou uma nova atitude frente a governos como Raúl Castro e Chávez, uma atitude de apaziguamento, conversa. Obama é uma grande reação à atitude belicista. Eu acho que ele está preparado para uma extraordinária mudança em relação a essas táticas imperialistas.”

Ele deixou o Pink Floyd em 1985, mas até hoje todo mundo espera que um dia volte. Waters diz que adoraria, mas não depende só dele - os ex-colegas, especialmente David Gilmour, ainda não se renderam à idéia. Mas o cantor se divertiu bastante sobre rumores de que estaria pensando em pendurar as chuteiras. “De jeito nenhum. Jamais pensei em aposentadoria.”

Agência Estado

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